Inglória é a vida, e inglório o conhecê-la.
Quantos, se pensam, não se reconhecem
Os que se conheceram!
A cada hora se muda não só a hora
Mas o que se crê nela, e a vida passa
Entre viver e ser.
Ingloria
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Gozo sonhado - RICARDO REIS
Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho.
Nós o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente Resistirmos em crer
Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.
Para mim ê-lo. crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se.
Porém eu me cumpro
Segundo o âmbito breve
Do que de meu me é dado.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Frutos - RICARDO REIS
Frutos, dão-os as árvores que vivem,
Não a iludida mente, que só se orna
Das flores lívidas Do íntimo abismo.
Quantos reinos nos seres e nas cousas
Te não talhaste imaginário!
Quantos,
Com a charrua, Sonhos, cidades!
Ah, não consegues contra o adverso muito
Criar mais que propósitos frustrados!
Abdica e sê Rei de ti mesmo.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Flores
Flores que colho, ou deixo,
Vosso destino é o mesmo.
Via que sigo, chegas
Não sei aonde eu chego.
Nada somos que valha,
Somo-lo mais que em vão.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Felizes - RICARDO REIS
Felizes, cujos corpos sob as árvores
Jazem na úmida terra,
Que nunca mais sofrem o sol, ou sabem
Das doenças da lua.
Verta Eolo a caverna inteira sobre
O orbe esfarrapado,
Lance Netuno, em cheias mãos, ao alto
As ondas estoirando.
Tudo lhe é nada, e o próprio pegureiro
Que passa, finda a tarde,
Sob a árvore onde jaz quem foi a sombra
Imperfeita de um deus,
Não sabe que os seus passos vão cobrindo
O que podia ser,
Se a vida fosse sempre vida, a glória
De uma beleza eterna.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Feliz Aquele - RICARDO REIS
Feliz aquele a quem a vida grata
Concedeu que dos deuses se lembrasse
E visse como eles
Estas terrenas coisas onde mora
Um reflexo mortal da imortal vida.
Feliz, que quando a hora tributária
Transpor seu átrio por que a
Parca corte
O fio fiado até ao fim,
Gozar poderá o alto prêmio
De errar no Averno grato abrigo
Da convivência.
Mas aquele que quer
Cristo antepor
Aos mais antigos
Deuses que no Olimpo
Seguiram a Saturno —
O seu blasfemo ser abandonado
Na fria expiação — até que os Deuses
De quem se esqueceu deles se recordem —
Erra, sombra inquieta, incertamente,
Nem a viúva lhe põe na boca
O óbolo a Caronte grato,
E sobre o seu corpo insepulto
Não deita terra o viandante.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
E tao suave - RICARDO REIS
É tão suave a fuga deste dia, Lídia,
que não parece, que vivemos.
Sem dúvida que os deuses
Nos são gratos esta hora,
Em paga nobre desta fé que temos
Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dão o alto prêmio
De nos deixarem ser
Convivas lúcidos da sua calma,
Herdeiros um momento do seu jeito
De viver toda a vida
Dentro dum só momento,
Dum só momento, Lídia, em que afastados
Das terrenas angústias recebemos
Olímpicas delícias Dentro das nossas almas.
E um só momento nos sentimos deuses
Imortais pela calma que vestimos
E a altiva indiferença
Às coisas passageiras
Como quem guarda a c'roa da vitória
Estes fanados louros de um só dia
Guardemos para termos,
No futuro enrugado,
Perene à nossa vista a certa prova
De que um momento os deuses nos amaram
E nos deram uma hora
Não nossa, mas do Olimpo.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Este Seu Escasso Campo - RICARDO REIS
Este Seu Escasso Campo
Este, seu ‘scasso campo ora lavrando,
Ora solene, olhando-o com a vista
De quem a um filho olha, goza incerto
A não-pensada vida.
Das fingidas fronteiras a mudança
O arado lhe não tolhe, nem o empece
Per que concílios se o destino rege
Dos povos pacientes.
Pouco mais no presente do futuro
Que as ervas que arrancou, seguro vive
A antiga vida que não torna, e fica,
Filhos, diversa e sua.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Estas so. Ninguem o sabe. - RICARDO REIS
Estás só. Ninguém o sabe.
Estás só.
Ninguém o sabe.
Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Domina ou cala - RICARDO REIS
Domina ou cala.
Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias?
Goza Bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Do que quero - RICARDO REIS
Do que quero renego, se o querê-lo
Me pesa na vontade.
Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.
Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me é dado,
E o que falta não quero.
O que me é dado quero
Depois de dado, grato.
Nem quero mais que o dado
Ou que o tido desejo.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Dia apos dia - RICARDO REIS
Dia após dia a mesma vida é a mesma.
O que decorre, Lídia,
No que nós somos como em que não somos
Igualmente decorre.
Colhido, o fruto deperece; e cai
Nunca sendo colhido.
Igual é o fado, quer o procuremos,
Quer o 'speremos.
Sorte Hoje,
Destino sempre, e nesta ou nessa
Forma alheio e invencível.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Deixemos, Lidia
Deixemos, Lídia, a ciência que não põe
Mais flores do que Flora pelos campos,
Nem dá de Apolo ao carro
Outro curso que Apolo.
Contemplação estéril e longínqua
Das coisas próximas, deixemos que ela
Olhe até não ver nada Com seus cansados olhos.
Vê como Ceres é a mesma sempre
E como os louros campos intumesce
E os cala prás avenas Dos agrados de Pã.
Vê como com seu jeito sempre antigo
Aprendido no orige azul dos deuses,
As ninfas não sossegam Na sua dança eterna.
E como as heniadríades constantes
Murmuram pelos rumos das florestas
E atrasam o deus Pã. Na atenção à sua flauta.
Não de outro modo mais divino ou menos
Deve aprazer-nos conduzir a vida,
Quer sob o ouro de Apolo Ou a prata de Diana.
Quer troe Júpiter nos céus toldados.
Quer apedreje com as suas ondas
Netuno as planas praias E os erguidos rochedos.
Do mesmo modo a vida é sempre a mesma.
Nós não vemos as Parcas acabarem-nos.
Por isso as esqueçamos Como se não houvessem.
Colhendo flores ou ouvindo as fontes
A vida passa como se temêssemos.
Não nos vale pensarmos No futuro sabido
Que aos nossos olhos tirará Apolo E nos porá longe de
Ceres e onde Nenhum Pã cace à flauta
Nenhuma branca ninfa.
Só as horas serenas reservando
Por nossas, companheiros na malícia
De ir imitando os deuses Até sentir-lhe a calma.
Venha depois com as suas cãs caídas
A velhice, que os deuses concederam
Que esta hora por ser sua Não sofra de Saturno
Mas seja o templo onde sejamos deuses
Inda que apenas, Lídia, pra nós próprios
Nem precisam de crentes Os que de si o foram.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
De novo traz - RICARDO REIS
De novo traz as aparentes novas
Flores o verão novo, e novamente
Verdesce a cor antiga
Das folhas redivivas.
Não mais, não mais dele o infecundo abismo,
Que mudo sorve o que mal somos, torna
À clara luz superna A presença vivida.
Não mais; e a prole a que, pensando, dera
A vida da razão, em vão o chama,
Que as nove chaves fecham,
Da Estige irreversível.
O que foi como um deus entre os que cantam,
O que do Olimpo as vozes, que chamavam,
'Scutando ouviu, e, ouvindo,
Entendeu, hoje é nada.
Tecei embora as, que teceis, Grinaldas.
Quem coroais, não coroando a ele?
Votivas as deponde,
Fúnebres sem ter culto.
Fique, porém, livre da leiva e do Orco,
A fama; e tu, que Ulisses erigira,
Tu, em teus sete montes,
Orgulha-te materna,
Igual, desde ele às sete que contendem
Cidades por Homero, ou alcaica Lesbos,
Ou heptápila Tebas Ogígia mãe de Píndaro.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
De Apolo - RICARDO REIS
De Apolo o carro rodou pra fora
Da vista.
A poeira que levantara
Ficou enchendo de leve névoa o horizonte;
A flauta calma de Pã, descendo
Seu tom agudo no ar pausado,
Deu mais tristezas ao moribundo
Dia suave.
Cálida e loura, núbil e triste,
Tu, mondadeira dos prados quentes,
Ficas ouvindo, com os teus passos
Mais arrastados,
A flauta antiga do deus durando
Com o ar que cresce pra vento leve,
E sei que pensas na deusa clara
Nada dos mares,
E que vão ondas lá muito adentro
Do que o teu seio sente cansado
Enquanto a flauta sorrindo chora
Palidamente.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Da nossa semelhanca com os deuses - RICARDO REIS
Da nossa semelhança com os deuses
Por nosso bem tiremos
Julgarmo-nos deidades exiladas
E possuindo a Vida
Por uma autoridade primitiva
E coeva de Jove.
Altivamente donos de nós-mesmos,
Usemos a existência
Como a vila que os deuses nos concedem
Para, esquecer o estio.
Não de outra forma mais apoquentada
Nos vale o esforço usarmos
A existência indecisa e afluente
Fatal do rio escuro.
Como acima dos deuses o Destino
É calmo e inexorável,
Acima de nós-mesmos construamos
Um fado voluntário
Que quando nos oprima nós sejamos
Esse que nos oprime,
E quando entremos pela noite dentro
Por nosso pé entremos.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Da lampada noturna - RICARDO REIS
Da lâmpada noturna
A chama estremece
E o quarto alto ondeia.
Os deuses concedem
Aos seus calmos crentes
Que nunca lhes trema
A chama da vida
Perturbando o aspecto
Do que está em roda,
Mas firme e esguiada
Como preciosa
E antiga pedra,
Guarde a sua calma
Beleza contínua.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Cuidas, Indio - RICARDO REIS
Cuidas, ínDio, que cumpres, apertando
Teus infecundos, trabalhosos dias
Em feixes de hirta lenha, Sem ilusão a vida.
A tua lenha é só peso que levas
Para onde não tens fogo que te aqueça,
Nem sofrem peso aos ombros
As sombras que seremos.
Para folgar não folgas; e, se leoas,
Antes legues o exemplo, que riquezas,
De como a vida basta Curta, nem também dura.
Pouco usamos do pouco que mal temos.
A obra cansa, o ouro não é nosso.
De nós a mesma fama Ri-se, que a não veremos
Quando, acabados pelas Parcas, formos,
Vultos solenes, de repente antigos,
E cada vez mais sombras,
Ao encontro fatal —
O barco escuro no soturno rio,
E os novos abraços da frieza stígia
E o regaço insaciável Da pátria de Plutão.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Coroai-me - RICARDO REIS
Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade,
De rosas — Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Cada beijo - RICARDO REIS
Como se cada beijo
Fora de despedida,
Minha Cloe, beijemo-nos, amando.
Talvez que já nos toque
No ombro a mão, que chama
À barca que não vem senão vazia;
E que no mesmo feixe
Ata o que mútuos fomos
E a alheia soma universal da vida.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Cada um - RICARDO REIS
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Cada dia sem gozo nao foi teu - RICARDO REIS
Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele.
Quanto vivas Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Cada coisa - RICARDO REIS
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera Têm branco frio os campos.
À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos A nossa incerta vida.
À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz Acima de um segredo,
E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve A negra ida do Sol) —
Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes Histórias, que nos falem
Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.
E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos
Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos, E há só noite lá fora.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Breve o dia - RICARDO REIS
Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos.
Isto, pensado, me de a mente absorve
Todos mais pensamentos.
O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,
Que, inda que mágoa, é vida.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Bocas roxas - RICARDO REIS
Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;
Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.
Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.
Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Azuis os montes - RICARDO REIS
Azuis os montes que estão longe param.
De eles a mim o vário campo ao vento, à brisa,
Ou verde ou amarelo ou variegado,
Ondula incertamente.
Débil como uma haste de papoila
Me suporta o momento. Nada quero.
Que pesa o escrúpulo do pensamento
Na balança da vida?
Como os campos, e vário, e como eles,
Exterior a mim, me entrego, filho
Ignorado do Caos e da Noite
Às férias em que existo.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
A nada imploram - RICARDO REIS
A nada imploram tuas mãos já coisas,
Nem convencem teus lábios já parados,
No abafo subterrâneo
Da úmida imposta terra.
Só talvez o sorriso com que amavas
Te embalsama remota, e nas memórias
Te ergue qual eras, hoje
Cortiço apodrecido.
E o nome inútil que teu corpo morto
Usou, vivo, na terra, como uma alma,
Não lembra.
A ode grava, Anônimo, um sorriso.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Atras nao torna - RICARDO REIS
Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve
Sua face, Saturno.
Sua severa fronte reconhece
Só o lugar do futuro.
Não temos mais decerto que o instante
Em que o pensamos certo.
Não o pensemos, pois, mas o façamos
Certo sem pensamento.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
A palidez do dia - RICARDO REIS
A palidez do dia é levemente dourada.
O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas
Dos troncos de ramos Secos.
O frio leve treme.
Desterrado da pátria antiqüíssima da minha
Crença, consolado só por pensar nos deuses,
Aqueço-me trêmulo A outro sol do que este.
O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole
O que alumiava os passos lentos e graves
De Aristóteles falando.
Mas Epicuro melhor
Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre
Tendo para os deuses uma atitude também de deus,
Sereno e vendo a vida À distância a que está.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Anjos ou deuses - RICARDO REIS
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem E nós não desejamos.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Antes de nos - RICARDO REIS
Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.
Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.
Tentemos pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E não querer mais vida
Que a das árvores verdes.
Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.
Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga,
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
AOS DEUSES - RICARDO REIS
Aos deuses peço só que me concedam
O nada lhes pedir. A dita é um jugo
E o ser feliz oprime Porque é um certo estado.
Não quieto nem inquieto meu ser calmo
Quero erguer alto acima de onde os homens
Têm prazer ou dores.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Ao longe - RICARDO REIS
Ao longe os montes têm neve ao sol,
Mas é suave já o frio calmo
Que alisa e agudece
Os dardos do sol alto.
Hoje, Neera, não nos escondamos,
Nada nos falta, porque nada somos.
Não esperamos nada E ternos frio ao sol.
Mas tal como é, gozemos o momento,
Solenes na alegria levemente,
E aguardando a morte
Como quem a conhece.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Aqui, neste miserrimo desterro
Aqui, neste misérrimo desterro
Onde nem desterrado estou, habito,
Fiel, sem que queira, àquele antigo erro
Pelo qual sou proscritoquerer ser igual a alguém
Feliz em suma — quanto a sorte deu A cada .
O erro de coração o único bem
De ele poder ser seu.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Aqui, Neera, longe - RICARDO REIS
Aqui, Neera, longe
De homens e de cidades,
Por ninguém nos tolher
O passo, nem vedarem
A nossa vista as casas,
Podemos crer-nos livres.
Bem sei, é flava, que inda
Nos tolhe a vida o corpo,
E não temos a mão
Onde temos a alma;
Bem sei que mesmo aqui
Se nos gasta esta carne
Que os deuses concederam
Ao estado antes de Averno.
Mas aqui não nos prendem
Mais coisas do que a vida,
Mãos alheias não tomam
Do nosso braço, ou passos
Humanos se atravessam
Pelo nosso caminho.
Não nos sentimos presos
Senão com pensarmos nisso,
Por isso não pensemos
E deixemo-nos crer
Na inteira liberdade
Que é a ilusão que agora
Nos torna iguais dos deuses
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Aqui dizeis na cova - RICARDO REIS
Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro,
Não 'stá quem eu amei.
Olhar nem riso
Se escondem nesta leira.
Ah, mas olhos e boca aqui se escondem!
Mãos apertei, não alma, e aqui jazem.
Homem, um corpo choro!
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Aguardo - RICARDO REIS
Aguardo, equânime, o que não conheço
— Meu futuro e o de tudo.
No fim tudo será silêncio, salvo
Onde o mar banhar nada
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
A flor que es - RICARDO REIS
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor!
Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perere
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Acima da verdade
Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.
Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,
Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo São outra Natureza.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
A Abelha - RICARDO REIS
A abelha que, voando, freme sobre
A colorida flor, e pousa, quase
Sem diferença dela
À vista que não olha,
Não mudou desde Cecrops.
Só quem vive
Uma vida com ser que se conhece
Envelhece, distinto
Da espécie de que vive.
Ela é a mesma que outra que não ela.
Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! —
Mortalmente compramos
Ter mais vida que a vida.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: HETERONIMOS, RICARDO REIS
Lidia - Ricardo Reis
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde que quer que estejamos.
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos, Tudo é alheio
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: RICARDO REIS
FRASES DE FERNANDO PESSOA
Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada.
O Poeta é um fingidor,finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente
"Quero para mim o espírito desta frase,transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar."
"Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande,ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha."
Correr riscos reais, além de me apavorar, não é por medo que eu sinta excessivamente - perturba-me a perfeita atenção às minhas sensações, o que me incomoda e me despersonaliza.
O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis
A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação.
A arte é a auto-expressão lutando para ser absoluta.
A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são.
A fé é o instinto da ação.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: FRASES
FRASES DE FERNANDO PESSOA
A arte é a auto-expressão lutando para ser absoluta.
A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são.
A fé é o instinto da ação.
A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.
A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.
A renúncia é a libertação. Não querer é poder.
A única atitude intelectual digna de uma criatura superior é a de uma calma e fria compaixão por tudo quanto não é ele próprio. Não que essa atitude tenha o mínimo cunho de justa e verdadeira; mas é tão invejável que é preciso tê-la.
Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.
Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?.
Amar é cansar-se de estar só: é uma covardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos).
Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: FRASES
FRASES DE FERNANDO PESSOA
As figuras imaginárias têm mais relevo e verdade que as reais.
As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu ?
Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria.
De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos.
Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.
Deus quer, o homem sonha e a obra nasce.
E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
E que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.
Eu sou aquilo que perdi.
Eu sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.
Falar é ter demasiada consideração pelos outros. Pela boca morrem o peixe e Oscar Wilde.
Haja ou não deuses, deles somos servos.
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: FRASES
FRASES DE FERNANDO PESSOA
Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
Nenhuma ideia brilhante consegue entrar em circulação se não agregando a si qualquer elemento de estupidez. O pensamento colectivo é estúpido porque é colectivo: nada passa as barreiras do colectivo sem deixar nelas, como real de água, a maior parte da inteligência que traga consigo.
Nunca sabemos quando somos sinceros. Talvez nunca o sejamos. E mesmo que sejamos sinceros hoje, amanhã podemos sê-lo por coisa contrária.
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo...
O Homem é do tamanho do seu sonho.
O amor é um sonho que chega para o pouco ser que se é.
O campo é onde não estamos. Ali, só ali, há sombras verdadeiras e verdadeiro arvoredo.
O génio, o crime e a loucura, provêm, por igual, de uma anormalidade; representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio.
O mais alto de nós não é mais que um conhecedor mais próximo do oco e do incerto de tudo.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: FRASES
FRASES DE FERNANDO PESSOA
O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.
O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade.
O pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a ação sobre os outros. A força sem a destreza é uma simples massa.
O povo nunca é humanitário. O que há de mais fundamental na criatura do povo é a atenção estreita aos seus interesses, e a exclusão cuidadosa, praticada sempre que possível, dos interesses alheios.
O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.
O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
O verdadeiro cadáver não é o corpo (...), mas aquilo que deixou de viver(...)
Os homens são fáceis de afastar. Basta não nos aproximarmos.
PEDRAS NO CAMINHO? GUARDO TODAS, UM DIA VOU CONSTRUIR UM CASTELO...
Para realizar um sonho é preciso esquecê-lo, distrair dele a atenção. Por isso realizar é não realizar..
Para sêr grande, sêr inteiro; nada teu exagera ou exclui; sêr todo em cada coisa; põe quanto és no mínimo que fazes; assim em cada lago, a lua toda brilha porque alta vive.
Para viajar basta existir.
Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: FRASES
FRASES DE FERNANDO PESSOA
Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente.
Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.
Quero para mim o espírito desta frase,transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.
Sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem ideias.
Ser imoral não vale a pena, porque diminui, aos olhos dos outros, a vossa personalidade, ou a banaliza. Ser imoral dentro de si, cercada do máximo respeito alheio.
Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo....
Tenho em mim todos os sonhos do mundo
Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.
Ter opiniões é estar vendido a si mesmo. Não ter opiniões é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta.
Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.
Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz.
Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.
Tuda vale a pena quando a alma não é pequena
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: FRASES
FRASES DE FERNANDO PESSOA
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão...
Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta.
Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.
Tudo que existe existe talvez porque outra coisa existe. Nada é, tudo coexiste: talvez assim seja certo..
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é.
Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém. Os outros sentidos são plebeus e carnais. A única aristocracia é nunca tocar.
Ver muito lucidamente prejudica o sentir demasiado. E os gregos viam muito lucidamente, por isso pouco sentiam. De aí a sua perfeita execução da obra de arte.
Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
É Talvez o Último Dia da Minha Vida
pode ser que nos guie uma ilusão; a consciência, porém, é que nos não guia.
Fernando Pessoa, Textos, Poesias, Poemas e Frases: FRASES